quarta-feira, 3 de abril de 2019

ZÉ ANTÔNIO DO FECHADO


Artigo de Gustavo Barroso, O Cruzeiro, 1954

PERIPÉCIAS DE UM VALENTÃO 
DO TEMPO DO IMPÉRIO


Ilustração de Jô Oliveira


O senhor feudal do Fechado

Estrepolias de José Antônio Uchoa, o célebre ZÉ ANTÔNIO DO FECHADO nas eleições do século XIX. Filho de um líder do Partido Conservador, bravo e destemido, ele interferiu, com seus asseclas, em eleições de diversos municípios, ainda no tempo da Monarquia. Os jornais da época trazem relatos de suas estrepolias em Canindé, Coité (Aratuba), Pentecoste (onde quis matar o padre Leitão), Mulungu e outros municípios do Maciço de Baturité e da Bacia do Curu. José Antônio de Sousa Uchôa nasceu em Canindé, em 1824 e faleceu na Fazenda Lagoa das Pedras, no dia 21/06/1918, também em Canindé. Foi absolvido dos crimes que lhe eram imputados depois de pedir perdão ao próprio Imperador Dom Pedro II, conforme atestam os versos de cantadores da época.

A seguir, trecho da crônica de GUSTAVO BARROSO intitulada "O SENHOR FEUDAL DO FECHADO"

"Seu pai, o capitão José Bernardo de Sousa Uchoa, antigo presidente do Senado da Câmara, proprietário da fazenda do Fechado, era um dos homens mais influentes da localidade. Representante legítimo por sua posição, educação e tendência do antigo patriarcalismo feudal que informou a vida pastoril nordestina e degenerou, mais tarde, no coronelismo, lutava pelo domínio da política municipal e, naturalmente, se tinha muitos amigos, também fizera inimigos. Entre estes, o maior era o tenente-coronel Manuel Mendes da Cruz Guimarães. No sertão, o ódio dos pais passa para os filhos e as famílias se empenham em lutas renhidas, que se propagam através das gerações como na Itália medieval."

Um bom assunto para o CARIRI CANGAÇO, não acham?

VER O TEXTO COMPLETO NESSE LINK:




ZÉ ANTÔNIO NA CRÔNICA DOS CANTADORES


VIOLEIROS DO NORTE, sétima edição.


Apresentamos agora, trecho da peleja dos cantadores Manoel Clementino com José Patrício, publicada em ‘Violeiros do Norte’, de 1925, premiado pela Academia Brasileira de Letras em 1926. A primeira edição da obra foi pela Cia. Graphico Editora Monteiro Lobato, com 311 páginas. Antiga obra de poesia e linguagem do sertão nordestino. Vejamos o trecho da ‘peleja’ que se refere a ZÉ ANTONIO DO FECHADO:

Patrício:
- Deus no 5º mandamento,
Manda a gente não matar!
Quem ofende a Lei de Deus
Muito mal tem de acabar,
Porque quem com ferro fere
Ferido também será.

Clementino:
Só se esconde o valentão
Que vive com o pé na lama,
José Antônio do Fechado
Morreu em cima da cama,
Brigou, matou muita gente,
Morreu, mas ficou a fama.

P – Zé Antônio quando morreu,
A palácio tinha ido
E lá sua Majestade
Já o tinha absolvido,
Porque ele, dos seus crimes,
O perdão tinha pedido.

C – Conheci José Antônio
Na Vila, sendo eleitor,
Capitão, Juiz de Paz,
Fiscal e Vereador...
Pior: em setenta e sete
Houve um padre matador.

(...)

Essa peleja de Manoel Clementino Leite com José Patrício de Siqueira Patriota encontra-se reproduzida integralmente, com pequenas variantes, no livro CANGACEIROS DO NORDESTE, de Pedro Baptista (genro de Leandro Gomes de Barros). A primeira edição do livro de Pedro Baptista data de 1929.





Capa de cordel muito antigo, publicado em Fortaleza,
sobre José Antônio do Fechado



História de José Antônio do Fechado
Autor: João de Barros (Fortaleza-CE)
(TRECHOS)
Meu leitor preste atenção
No que agora vou contar
De um homem revoltado
Que morava n’um lugar
Onde a polícia e o exército
Tentaram o aprisionar.

Era uma bela fazenda
De um homem muito honrado
Sisudo e trabalhador,
Por todos muito acatado
Em vista das qualidades
De fazendeiro abastado.

Vivia elle feliz
Nesse esquisito lugar,
Tratando só de seus filhos
Ensinando-os a trabalhar
Sempre providenciando
Para nada lhe faltar.

Um dia dera uma surra
Em um cabra malcriado
Que por questões de somenos
Era um sujeito malvado
Criou um ódio mortal
A Zé Antônio do Fechado.

(...)

Pesquisa: Arievaldo Vianna

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