terça-feira, 14 de abril de 2020

CARIRI CANGAÇO




Adiado o CARIRI CANGAÇO de Paulo Afonso-BA

NOTA OFICIAL

Diante do atual quadro de Pandemia do Covid-19 que assola nossa Nação; considerando todas as recomendações das autoridades governamentais e sanitárias; federais, estaduais e municipais; e acima de tudo em profundo respeito à integridade e saúde da imensa família Cariri Cangaço de todo o Brasil, a Curadoria do Cariri Cangaço Paulo Afonso nas pessoas de Manoel Severo Barbosa e Joao de Sousa Lima, representando o Conselho Alcino Alves Costa e o Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso, comunicam que o referido seminário Cariri Cangaço Paulo Afonso 2020, anteriormente marcado para os dias 11 a 13 de junho do corrente, está ADIADO para data a ser confirmada posteriormente. Pedimos humildemente a compreensão de todos e permanecemos à inteira disposição para maiores esclarecimentos. Sabemos que a Vida é a Arte do Encontro e o Cariri Cangaço tem como grande legado fazer valer cada encontro, se cuidem e fiquem em casa, esperamos que no mais breve espaço de tempo possamos reunir a verdadeira alma nordestina, com respeito, festa e segurança.

Cariri Cangaço
Mais que um Evento, Um Sentimento...

CURADORES
Manoel Severo Barbosa
Conselho Alcino Alves Costa
João de Sousa Lima
Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso

APOIO INSTITUCIONAL
Benedito Vasconcelos
SBEC-Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
Archimedes Marques
ABLAC- Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço
Ângelo Osmiro Barreto
GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará
Narciso Dias
GPEC - Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço

domingo, 16 de fevereiro de 2020

UM CAUSO DE MINAS




A GAMELEIRA AMALDIÇOADA


Jô Drumond

Era usual, no sertão mineiro, a organização de reuniões para audição de literatura oral, principalmente nos finais de semana. Em meados do século passado, Xibiu, um famoso contador de causos, era sempre convidado pelos fazendeiros dos arredores a contar suas lorotas. Formava-se uma pequena plateia que, muitas vezes, atravessava horas sem perceber o fluir do tempo, presa ao fio narrativo.

Esse contador de histórias tinha o dom da eloquência. Associava intuitivamente o volume, a entonação da voz e a mímica à narrativa, de modo a causar comoção. Xibiu sentia-se poderoso ao ter diante de si uma plateia seleta, manipulada a seu bel-prazer. O público, já predisposto, extasiava-se com facilidade, ao sabor das aventuras e dos mistérios. É lamentável que a maioria dessas histórias se tenha dissipado na poeira do esquecimento.

Em minha última ida ao sertão, em 2019, tive o privilégio de ouvir um dos “causos” que ele contava, antes de sua única viagem sem volta, com destino provável, onde deve estar fazendo a alegria dos querubins, serafins e ofanins.

Era uma vez, em uma encruzilhada não muito distante, uma grande Gameleira, debaixo da qual, nenhuma erva brotava. Os habitantes da circunvizinhança diziam que a terra ali era estéril porque aquela árvore era amaldiçoada. Debaixo dela, à meia-noite, os demônios se reuniam para dançar e fazer festa. Diziam também que, se alguém quisesse fazer algum pedido à entidade demoníaca, naquele local e naquele horário, seria prontamente atendido. Ninguém nunca tinha tido o desplante de se aproximar do satânico festim.



Havia nas redondezas um velho apelidado de Papudo ou Zé do Papo, que carregava, com constrangimento, um grande bócio. Um aprendiz de doutor, vindo da cidade grande, disse-lhe que aquela protuberância nada mais era que o aumento da glândula tireoide, ocorrente em regiões montanhosas ou distantes do mar, devido a problemas de absorção e fixação de iodo no organismo. Acrescentou que, para evitar esse e outros tipos de anomalias congênitas, a vigilância sanitária exigia a adição de iodo ao nosso sal cotidiano. Mencionou a possibilidade de uma cirurgia. Isso seria quase impossível. Zé do Papo nunca tinha botado os pés fora do sertão. Desconhecia as gentes e os hábitos estranhos da cidade. Além disso não dispunha de meios pecuniários para tal façanha.

Desacreditava a história da Gameleira, mas, certo dia, cansado de ser motivo de deboches, resolveu tirar a história a limpo. O fato é que o peso das pilhérias pesava mais que o papo. Como se diz no sertão, ele “comprou coragem” durante um bom tempo e, mesmo assim, meio temeroso, lá se foi, em direção à gameleira, em noite de lua nova. De longe avistou claridade, debaixo da árvore e começou a ouvir os sons da noitada demoníaca. Aproximou-se com humildade e pediu, com grande modéstia, que o livrassem daquele incômodo que o acompanhava havia muito tempo. Os demônios se apiedaram do pobre coitado. Num passe de mágica, seu papo apareceu pregado no tronco da árvore. Papudo passou a mão pelo pescoço para se certificar. Mistério!!! Não era simples crendice. Voltou despapado para casa, para espanto geral. A notícia correu por trilhas e veredas, sertão afora. Outro papudo, sabedor do ocorrido, resolveu fazer o mesmo. Porém, diferentemente do primeiro, chegou pisando firme, de nariz em pé, com ares arrogantes, dizendo com altivez, que, como haviam tirado o papo do outro, que tirassem o seu também. Os capetas não gostaram de sua petulância e decidiram dar-lhe a merecida lição: tiraram o papo colado na árvore e o colocaram na cacunda do forasteiro, que voltou descabriado, com um papo na frente e outro atrás.

Moral da história: nem o capeta tolera petulância. Todos devem ser tratados com educação e delicadeza.

Disseram-me que Xibiu narrava a festa e a dança demoníaca com profusão de detalhes, prendendo a atenção de todos com mímica e impostação de voz. Nunca teve acessos a livros, nem ao saber convencional, mas carregava muita sabedoria nos bolsos da vida. Aplicava-se na arte de encantar e de conduzir os ouvintes a universos nunca dantes vislumbrados. Apesar de jamais ter-se deslocado do sertão, era o guia perfeito para grandes viagens míticas.

Nota: A gameleira é considerada sagrada na África, sobretudo em Angola, onde se cultua o orixá Irokô, também conhecido como Tempo. Nos recônditos do Brasil ainda há resquícios dessa crendice. Há rituais e diversos trabalhos de encantamentos feitos ao pé da gameleira branca ou fícus doliaria.


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

ADEUS, MENINO PASSARINHO

Morre aos 91 anos o compositor e radialista Luiz Vieira



Sucesso nas rádios e na TV, Luiz Vieira compôs mais de 500 músicas ao longo da carreira Foto: Divulgação

Autor de mais de 500 canções, ele nasceu em Caruaru (PE), mas se mudou para o Rio ainda criança

RIO — Morreu hoje, aos 91 anos, o cantor, compositor e radialista Luiz Vieira . Ele estava internado na Casa de Saúde José, na Zona Sul do Rio, para onde foi levado após passar mal, em casa, na noite de ontem.

Ao GLOBO , Eurídice Pereira, casada há 30 anos com Vieira, conta que ele já vinha apresentando a saúde fragilizada. Depois de passar a noite internado, ele teve uma parada cardíaca e morreu às 7h30 desta quinta-feira.

Autor de sucessos como "Prelúdio para ninar gente grande (Menino passarinho)", "Paz do meu amor" e "A voz do povo", "Forró do Tio Augusto", "Guarânia da Lua Nova", dentre outras. Foi um dos principais parceiros de João de Valle, com quem compôs "Na Asa do Vento", "Maria Filó", "Estrela Miúda" e muitas outras. Luiz Vieira nasceu em Caruaru (PE), mas se mudou para o Rio de Janeiro ainda criança. Foi criado pelo avô em Alcântara, no município de São Gonçalo, e na década de 1940 começou a se apresentar como crooner em bares da Lapa. Tornou-se "príncipe do baião" durante sua passagem pela Rádio Tamoio, quando se apresentou ao lado de Luiz Gonzaga no programa "Salve o baião".

LUIZ  VIEIRA - FORRÓ DO TIO AUGUSTO (SR. BRASIL)



Como compositor Vieira tem mais de 500 músicas gravadas por diversos artistas, entre os quais, Caetano Veloso, Taiguara, Pery Ribeiro, Nara Leão, Moacyr Franco, Hebe Camargo, Augusto Calheiros, Gilberto Alves, Agnaldo Rayol, Elba Ramalho, Luiz Gonzaga, Cascatinha e Inhana, Sérgio Reis, Rita Lee, Marcelo Costa e Maria Bethânia.
Em outubro de 2018, foi realizado um show em São Paulo como tributo aos 90 anos do artista. A homenagem contou com a presença de nomes como Daniel, Renato Teixeira, Zeca Baleiro, Sérgio Reis, Claudette Soares, Edy Star, Maria Alcina, As Galvão, Verônica Ferriani e Ayrton Montarroyos. Em maio do ano passado, a apresentação virou disco.




FONTE: JORNAL O GLOBO

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

MORTE E VIDA SEVERINA



Há 100 anos, nascia João Cabral de Melo Neto, o 'poeta engenheiro'

Por: Emannuel Bento | DP

Planejar a construção de uma casa envolve definição do terreno, levantamento da mão de obra necessária para a execução até a obtenção dos materiais e documentos. De forma símil, João Cabral de Melo Neto propôs uma engenharia ao escrever. Decidia qual seria o plano do livro, número de poemas, temas tratados. Assim, foi eternizado na história da literatura brasileira e mundial: um poeta sistemático, objetivo e consistente, que rejeitava o trabalho poético como um fruto de epifanias criativas ou inspirativas. E com isso tratou da realidade dura do Nordeste com olhar atento, sobretudo às desigualdades sociais. Hoje é comemorado o centenário do pernambucano, que viajou o globo pelo ofício de diplomata, mas foi imortalizado no mundo pelos seus poemas. Em 1999, mesmo ano de sua morte, tornou-se o único poeta brasileiro a ser forte candidato a receber o prêmio Nobel de Literatura.
Filho de Luís Antônio Cabral de Melo e Carmen Carneiro Leão Cabral de Melo, João Cabral nasceu no Recife, mas passou parte considerável da infância em engenhos de açúcar da família, em São Lourenço da Mata e Moreno, na Zona da Mata pernambucana. Ainda aos 8 anos, já apreciava cordéis e até lia algumas histórias para os empregados da família. Já nessa época, via a diferença entre os senhores de engenho e os mais pobres, fosse pelos cordéis ou pelo contato com os funcionários.
Aos 10 anos, ingressou no Colégio de Ponte d’Uchoa, dos Irmãos Marista, onde estudou até concluir o secundário. Teve uma formação muito rica, que já o preparava para a carreira de diplomata. Estudou muito o parnasianismo de Olavo Bilac, escola que incorporou o espírito positivista e científico, que influenciou o viés “construtivista” de poema.


Na década de 1940, a família se transferiu para o Rio de Janeiro. Na capital fluminense, publicou seu primeiro livro, Pedra do sono (1942), uma coletânea com poemas escritos durante a adolescência em Pernambuco. A obra é considerada um marco inicial do “cabralismo”, pois já tinha uma preocupação na construção do poema e do objeto do qual se fala, mas com experimentação poética e tentativas surrealistas - essa dualidade era evidenciada no título, que mescla o concreto e o sereno.
Em 1945, após ingressar no Itamaraty, peregrinou por vários países, como Inglaterra, Suíça e Senegal. O destaque foi a Espanha, onde viveu em cidades como Barcelona, Sevilha e Andaluzia. “A temporada em Andaluzia despertou em Cabral o interesse por manifestações populares da cultura, como o canto cigano e as touradas”, explica Antonio Carlos Secchin, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e um dos principais pesquisadores da obra de Cabral. “E foi somente a partir da experiência espanhola que o erotismo passou a marcar presença em sua produção.”
O diálogo com a cultura espanhola influenciou um processo de evidenciar uma visão objetiva do discurso lírico. O marco do início dessa linha é O engenheiro (1945). Dez anos depois, lançou sua “magnum opus”: Morte e vida severina, livro que retrata, em poema dramático, a trajetória de um retirante do Sertão nordestino em busca de vida melhor no Litoral urbano, narrativa comum em época de forte êxodo rural. O poema segue duas linhas que criam uma dicotomia, já existente no título. O subtítulo do poema é Auto de Natal pernambucano, criando um elo com autos medievais, conhecidos por linguagem simples, às vezes cômicos e moralizadores.
Na segunda metade dos anos 1960, o texto foi adaptado para o teatro em meio ao ápice de sua carreira. Foi nesse período que ele ingressou na ABL e publicou Educação pela pedra (1966), considerada sua obra-prima pela crítica. Muitos consideravam, inclusive, que não havia mais para onde progredir. O livro reúne 48 poemas criados de um modo rigoroso e sistemático, que procuravam atingir a consistência de uma pedra. O poema que intitula a obra traz lições que falam muito sobre sua linguagem seca e objetiva, criando um elo com a dura realidade do Nordeste. Realidade árida, ser humano árido.

Da obra poética de João Cabral, ainda se pode mencionar O cão sem plumas (1950), O rio (1954), Museu de tudo (1975), Auto do frade (1986), entre outros. João Cabral passou os últimos anos da vida mais recluso em um apartamento no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Chegou a produzir cinco livros nessa época, bem menos explorados pela nova geração de poetas - que evitavam seu formalismo - e pelos críticos.
Em carta de abril de 1984, para o editor Daniel Pereira, João Cabral escreveu: "Gostaria, francamente, que se esquecessem de minha existência como escritor. Isto é, gostaria que a gente de hoje antecipasse o esquecimento que virá para a minha poesia dentro de breves anos". Foi uma das vezes que, já recluso, o engenheiro se equivocou. A obra de João Cabral está sendo amplamente revisitada. Estão previstos um livro de entrevistas de Ivan Marques (que já é autor da biografia do poeta), uma fotobiografia de Eucanãa Ferraz e dois exemplares reunindo a obra completa na poesia e os textos em prosa.
Uma coletânea bilíngue (português e espanhol) de poemas será lançada na Feira do Livro de Quito, no Equador. O autor também será homenageado no 9º Festival Literário de Araxá (Fliaraxá), em Minas Gerais, em julho. A pesquisadora Edineia Rodrigues Ribeiro encontrou conteúdo inédito no acervo do autor na Fundação Casa de Rui Barbosa, que ainda está sendo analisado - mas cerca de 40 poemas já foram confirmados como inéditos e outras novidades podem surgir. A editora Alfaguara, detentora dos direitos autorais de Cabral, finaliza os trâmites para relançar as obras.

FONTE: DIÁRIO DE PERNAMBUCO

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

MAIS UM TALENTO QUE PARTE



Forró em Luto: 
Morre Dejinha de Monteiro aos 67 anos

O cantor e compositor paraibano Dejinha de Monteiro faleceu na manhã deste domingo (22), em João Pessoa. Geneci Bispo Lourenço, nome de batismo do sanfoneiro, tratava de um câncer no intestino.

É melhor que seja agora, um dos sucessos do grande sanfoneiro de Monteiro




Em novembro Dejinha passou por uma cirurgia, da qual ainda se recuperava. 
A família confirmou a morte nas redes sociais.


UM POUCO DA HISTÓRIA DO GRANDE SANFONEIRO

Dejinha nasceu em 1952 na cidade de Monteiro, na Região do Cariri paraibano. Era um dos 13 filhos de uma família de agricultores. Seu primeiro instrumento foi um pandeiro e recebeu todo o apoio e incentivo dos parentes para atuar na vida artística. Mas foi na adolescência que deu um passo mais significativo, definindo seus rumos na música: ganhou do irmão mais velho uma sanfona, trazida de Brasília como presente.

Contudo, a vida como sanfoneiro era difícil e seu pai preferia que ele continuasse se dedicando à agricultura, que lhes conferia uma renda fixa para sustento da família. O jovem, por sua vez, não desistiu do sonho. Aventurou-se pelo mundo, mostrando o seu trabalho e a cultura nordestina.
As primeiras apresentações aconteceram nos sítios da região. Dejinha acompanhava um sanfoneiro com o seu pandeiro e, entre os shows, usava o instrumento do amigo para repetir os acordes e aprendê-los. O início da sua carreira profissional começou com as viagens pelo país em busca de conquistar um espaço como cantor regional e divulgar as suas canções, os ritmos que nasceram do Nordeste: o xote, o xaxado, o baião, o coco-de-roda ou coco-de-embolada.
O primeiro destino de Dejinha foi Brasília, onde permaneceu por dez meses. Depois, viajou para o Rio de Janeiro, onde viveu por 12 anos, divulgando o seu trabalho como cantor e compositor nas rádios locais. Participou de programas da Rádio Globo, Rádio Nacional e Rádio Federal de Niterói (RJ). Nesse período fez amizades com o Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Marinês, Messias Holanda e Elino Julião. Ainda no Rio de Janeiro, chegou a tocar na mesma casa de shows em que o Trio Nordestino se apresentava no seu auge da carreira.
O nome artístico nasceu no período em que ainda estava no Rio de Janeiro. O apelido Dejinha foi dado por sua avó, já o “de Monteiro” o cantor acrescentou com o objetivo de levar no seu nome a cidade que representava as suas origens.
No estado de Goiás, em 1966, Dejinha participou de uma campanha política, tocando por 70 noites na capital, Goiânia. Nessa época, os artistas mais comentados no estado eram de outras regiões do país, como Elba Ramalho e Zé Ramalho.
Foi em Goiás que o paraibano conheceu o cantor Amado Batista, que, na época, tinha uma loja de discos e há pouco havia gravado o seu primeiro compacto. Em Goiás, Dejinha tocava o tradicional forró pé-de-serra na casa de shows Rancho da Alegria, que sempre lotava nas suas apresentações, caracterizadas pelo estilo do forró tradicional, enfatizando histórias românticas nas letras das suas melodias.
Além das suas músicas, o monteirense cantava os sucessos do cantor Luiz Gonzaga, porém com uma nova roupagem, acrescentando novos arranjos musicais para deixar o ritmo mais animado.
Em 1989, Dejinha produziu e lançou o seu primeiro LP. Nos dois anos seguintes, com o surgimento das bandas de forró, não realizou outras gravações. Porém chegou a participar do ‘Programa do Bolinha’, da TV Bandeirantes, e produziu o primeiro CD da Banda Magníficos.
Foram 40 anos de estrada, sendo 27 vividos profissionalmente, com quatro LPs, 26 CDs, um DVD e mais de 350 músicas registradas. Entre as músicas criadas pelo cantor, ‘Amor e saudade’ é uma das mais pedidas pelo público durante os shows.
O monteirense firmou grandes parcerias ao longo do seu trabalho com Flávio José, conterrâneo da cidade Monteiro, Jorge de Altinho, Chico César, Santanna, entre outros que também divulgam em suas músicas a cultural regional. Em 2008, o cantor foi homenageado com o troféu “Asa Branca” pelo Forró Fest, evento realizado pelas TVs Cabo Branco e Paraíba. Nesse ano os homenegeanos foram Sivuca, Marinês, Zabé da Loca e o próprio Dejinha.

Redação com Diário da PB


sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

EXPERIÊNCIA DAS PEDRAS DE SAL



'Pedras de Sal' são usadas na véspera do dia de SANTA LUZIA (13 de dezembro) para prever o tempo no sertão


Pedras são usadas na virada para saber se ano novo será chuvoso ou não.

Do G1 RN

Os longos períodos de estiagem no sertão nordestino e a fé característica de seu povo fizeram surgir experiências que se tornaram crenças populares. Através de uma delas, no município potiguar de Governador Dix-Sept Rosado, a 320 quilômetros de Natal, a sabedoria popular diz que é possível saber se o ano que se aproxima será chuvoso ou de seca. Lá, as 'Pedras de Sal de Santa Luzia' são usadas às vésperas do ano novo como previsão do tempo.
Aos 88 anos, dona Mariquinha, aposentada, é conhecida na cidade por manter os costumes que aprendeu com a avó. Todos os anos, entre a noite do dia 12 e a madrugada do dia 13 de dezembro, ela usa um pedaço de giz para marcar em uma tábua os seis primeiros meses do ano. Em seguida, coloca uma pedra de sal em cima de cada marca. A tábua com as pedras é colocada sobre a cisterna da casa e, antes do nascer do sol, Mariquinha retorna para verificar o resultado. Caso a pedra posta sobre o mês de janeiro derreta e escorra até a área demarcada para fevereiro, o ano será chuvoso nesses primeiros meses, e assim sucessivamente.



A treze do mês

ele faz experiência
perdeu sua crença
nas pedras de sal...
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
pensando na barra
do alegre NATAL. 

(Patativa do Assaré)


EXPERIÊNCIA É ANTIGA E VEM SENDO DOCUMENTADA PELA LITERATURA NORDESTINA

Na obra "A Terra e o Homem no Nordeste", o geógrafo Manuel Correia de Andrade apresenta um minucioso relato do que podemos considerar uma cronologia das práticas do sertanejo neste aspecto:

“Assim, preocupando-se com uma possível seca, o sertanejo está sempre às voltas com as ‘experiências’ e prognósticos sobre a possibilidade de chuvas nos anos que virão. Para estas ‘experiências’ o dia de Santa Luzia (13 de dezembro) é o mais importante, uma vez que o toma como ponto de referência para o mês de janeiro do ano seguinte e os dias que se seguem correspondem aos outros meses (assim o dia 14 é fevereiro, 15 é março, 16 é abril e assim por diante até o dia 24 que corresponde ao mês de dezembro). No dia em que chover, o mês correspondente será de chuva e naquele em que não chover, o mês correspondente será seco.
Outra experiência consiste em colocar-se seis pedras de sal, representando os seis primeiros meses do ano (vindouro) sobre um plano, no ‘sereno’, na noite de Santa Luzia. Pela manhã, a pedra que mais estiver dissolvida representa o mês mais chuvoso do ano que se segue. Se essas experiências derem resultados negativos, o sertanejo, apreensivo, começa a pensar nos horrores da seca e na possível necessidade de retirada.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Manuel Bandeira e Quixeramobim



SAUDADES DE QUIXERAMOBIM

Manuel Bandeira*

O cabeçalho desta crônica mais parece título de alguma valsinha. Aliás, se eu tivesse bossa para a música, gostaria de compor três valsinhas – Saudades de campanha, Saudades de Teresópolis e Saudades de Quixeramobim. Poria num chinelo a Antógenes Silva com as suas Saudades de Ouro Preto e Saudades de Uberaba, essas duas delícias.

Creio que as saudades de Quixeramobim não são as que mais doem. Como me doem as de Paris. Porque a verdade é que não estive em Paris: estive durante três dias num quarto de hotel na Rua Balzac. Do mesmo modo, não estive em Quixeramobim: estive durante uns meses num sobradão da praça principal da cidade, em frente à velha matriz, e se estou batendo esta crônica de saudade é porque vi n’O Cruzeiro** de umas semanas atrás uma fotografia do templo, não como é agora, desfigurado pela restauração, mas como era ainda em 1908.


Os dois veteranos pardieiros, a igreja e o meu sobrado, pareciam as duas personagens de um apólogo dialogal. Dois fantasmas. A casa dava fundos para o rio, de sorte que, logo que eu cheguei, fui à janela ver o rio. Foi uma grande lição de geografias: não havia rio nenhum: O Quixeramobim estava seco, seco; o que eu vi foi um areal, branco como uma praia, sobre o qual se arqueava a enorme ponte de estrada de ferro. E nesse areal várias cacimbas. O sobrado, que tinha um ar de mal-assombrado, era de tantas e tão espaçosas peças, que a matuta que levei para lá como cozinheira se perdia nele e um dia me disse, atarantada, que não sabia navegar naquela casa, não!

Eu vivia encantoado na sala da frente, que de um oitão a outro, com várias sacadas para o largo, mobiliada (atenção, revisor: não ponha “mobilada”, que é uma palavra que eu detesto!) com uma cama-de-vento, uma cadeira e um lavatoriozinho de ferro.

De vez em quando morria um cidadão de Quixeramobim e o sino grande da matriz entrava a dobrar. Era formidável. Sino de Quixeramobim, baterás por mim? Dizia eu comigo pressagamente. Quantas vezes, a horas diversas, chegava eu a uma das sacadas de frente e ficava a olhar a velha igreja! Onde nunca entrei e hoje tenho pena. Tudo isso virou saudade e sinto grandemente não ter bossa para escrever a valsinha que a exprimisse bem no estilo amolescente de Antenógenes Silva.


* A crônica Saudades de Quixeramobim, de Manuel Bandeira( 1886/1968), escrita em 1956, faz parte da coletânea de crônicas do autor pernambucano publicada, em 1957, no livro Flauta de Papel – Coleção Cronistas do Brasil. O grande poeta brasileiro relembra os dias em que esteve na cidade cearense (também passou curta temporada em Maranguape e Uruquê), em 1908, em busca de clima apropriado para tratar de tuberculose, doença que o atormentou até a morte.

(Eliézer Rodrigues, revista Singular)



** Abaixo, veja fac-símile das páginas da revista O CRUZEIRO, onde o cearense Gustavo Barroso escreveu um belo artigo sobre a vetusta matriz de Quixeramobim.







CARIRI CANGAÇO

Adiado o CARIRI CANGAÇO de Paulo Afonso-BA NOTA OFICIAL Diante do atual quadro de Pandemia do Covid-19 que assola nossa Naçã...

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