sexta-feira, 2 de agosto de 2019

30 ANOS SEM LUIZ



Para Fausto Nilo, Gonzaga integra o panteão da música feita no Nordeste junto ao paraibano Jackson do Pandeiro e à cantora pernambucana Marinês

FOTO: NAH JEREISSATI


Fausto Nilo é autor da última música gravada em estúdio por Luiz Gonzaga

Por Diego Barbosa

O disco "Veredas Nordestinas", de Dominguinhos, lançado em 1989, traz a última gravação em estúdio feita por Luiz Gonzaga com autoria do cearense Fausto Nilo


Está em "Veredas Nordestinas", disco de Dominguinhos, lançado em 1989, a última gravação em estúdio realizada por Luiz Gonzaga. A constatação é de pesquisa realizada por Paulo Vanderley, estudioso do Rei do Baião. "O Juazeiro e a sombra", ao trazer à superfície descrições sobre as cores do sol, o caminhar por estradas e a resistência, traduz a paisagem sertaneja em cada verso e foi gestada exatamente para bradar as minúcias do ambiente.

Em entrevista ao Verso, o músico e arquiteto cearense Fausto Nilo, compositor da canção, conta que o título nasceu a partir do nome de uma das fazendas de Quixeramobim, município onde nasceu. "Ela se chamava 'Juazeiro da sombra'. Mas, não sei por que, quando estava escrevendo a letra, coloquei na cabeça que ficaria 'O Juazeiro e a sombra'", afirma.

O próprio Dominguinhos havia pedido a Fausto Nilo que escrevesse a música para cantar junto com Gonzaga. "E o Luiz compreendeu o espírito, o que me deixou muito feliz. Dominguinhos me contou que ele se emocionou muito durante o processo. A gravação ficou realmente bastante linda", observa.

Não foi a primeira vez que Nilo teve canção gravada pelo Rei do Baião. Antes, "Depois da derradeira", em 1981, uma música de São João, marcava a parceria entre o trio Fausto, Gonzaga e Dominguinhos. "Isso foi antes de ele ficar doente, o que coloca 'O Juazeiro e a sombra' realmente como a última que ele gravou em estúdio".

Memórias

Ao evocar a lembrança, o músico e arquiteto se demora em emoções. Situa que tudo é de grande importância para ele porque remete diretamente às primeiras memórias carregadas a tiracolo de quando criança, ao escutar Gonzagão na vitrola e já apreciar sua desenvoltura.

"Para mim, foi o máximo ter uma letra interpretada por ele. Imagine uma criança que ouve uma pessoa com uma admiração profunda e, um dia, essa pessoa dá vida ao que você criou. Talvez uma das coisas mais importantes da minha carreira de autor tenha sido ser gravado pelo Gonzaga duas vezes".

Ainda enquanto menino, Fausto recorda da passagem de Luiz por Quixeramobim. À época, havia passado toda a tarde na casa em que ele estava hospedado, olhando, de longe, a magia que emanava do homem. "Eram uns três ou quatro músicos reunidos; eles ali numa sala e eu só olhando. Nunca imaginava que, um dia, a voz dele ia soar numa letra minha".

Quanto à influência que Gonzaga deixou para o Ceará - mesmo sendo ele natural de Exu, em Pernambuco - Fausto comenta que é uma herança incontornável, mencionando que a juventude do artista foi em Fortaleza, onde fez muitos amigos e conseguiu desenvolver estreito contato com a cidade.

"Recordo de ele chegando no povão, e não na elite. Quando criança, tinha uma visão de que a classe média, os mais ricos, não escutavam sua música. Pessoas mais comuns, não, sempre o escutaram. Depois do Tropicalismo, quando nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil valorizaram sua imagem, é que ele ganhou audiência também no meio intelectualizado. Mas é importante considerar que Luiz Gonzaga foi um artista do povo, de muita popularidade".

O Juazeiro e a sombra 
(Dominguinhos e Fausto Nilo)

As cores do sol, constelações do chapéu
O Juazeiro e a sombra, e a saudade quase no céu
As flores de Liz, anotações sem papel
Os versos que fiz, só por gostar de você.

Eu peço à luz do sertão, pra brilhar,
Sobre as promessas do seu Ceará,
Eu faço você feliz, ao contrário da vida que morre no chão,
Só tenho o meu coração, pra cantar
E sentimentos pra rir ou chorar
Mas eu não posso mentir pra você,
Que o remédio é cantar.

Pra que caminhar,
Se agora estamos aqui,
No meio da estrada,
Que o destino escolheu.

São as cores do sol,
constelações do chapéu
O Juazeiro e a sombra,
tudo isso sou eu.

Pra que caminhar,
Se agora estamos aqui,
No meio da estrada,
Que o destino escolheu.

São as cores do sol,
Constelações do chapéu
O Juazeiro e a sombra
Tudo isso sou eu

*Agradecimento especial ao pesquisador Paulo Vanderley, que prestou consultoria para a realização desta série de reportagens sobre os 30 anos de saudade de Luiz Gonzaga

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