O poeta Pedro Paulo Paulino se despede do amigo TONICO MARREIRO, conhecido radialista de Canindé, falecido na última sexta-feira, 8 de junho:
A VOZ AMIGA
(E SAUDOSA) DO CANINDÉ
Era sempre aos
domingos, que se ouvia no rádio essa saudação: “Alô, meus amigos, alô, minhas
amigas, cumprimenta-lhes Tonico Marreiro!”. Saudação antológica, alegre e
cordial. Ao som da melodia de “Pedacinhos do céu”, estava no ar mais um
programa “Fim de semana com o Tonico”. Essa saudação transformou-se em
silêncio. Tonico Marreiro já se chama saudade – palavra entranhada no seu
coração que por longos anos drenou rios de sentimento bairrista. Depois de
estar presente sete décadas e meia no palco da vida, Tonico dá adeus no
derradeiro ato da existência. E Canindé fica órfão de um patrono apaixonado por
esse pedaço de chão.
São muitos os vácuos
que se formam com a ida desse conterrâneo vibrante. O rádio cearense, para
começar, perde uma voz autêntica que por 40 anos a fio levou o entretenimento,
a prosa divertida, a música de qualidade, a opinião sincera a milhares de ouvintes,
nos vários prefixos em que trabalhou o comunicador brilhante.
A história, o folclore
e as tradições de Canindé ficam à deriva com a falta do seu contador de causos
e anedotas, depositário de um repertório opulento de fatos e gracejos. A música
popular dos bons tempos cala-se agora sem o seu guardião e divulgador mais
leal.
Perde-se um soldado
aguerrido e sempre a postos no campo de batalha cultural da terra de São
Francisco. A exemplo de um Atlas incansável, Tonico Marreiro carregou, não nos
ombros mas no coração, o Canindé de sua paixão, de seu romantismo, de sua
mocidade e recordações. E com isso, fez caso de combater, sempre, em favor da
manutenção dos costumes e tradições de sua terra.
Sua despedida é o
epílogo de uma vida dedicada inteiramente a uma causa: a preservação das
tradições locais. Seu combate, reconheça-se, nem sempre logrou êxito. Sua
batalha, muita vez, foi em vão. O que o fez jamais desistir. Determinado e
movido por um carinho insólito por Canindé, Tonico Marreiro arregaçou as mangas,
ergueu o peito e dedicou-se às suas origens, por força de talento e coragem. E
assim conseguiu legar para nossas letras três livros, dois dos quais dedicados
– antes de tudo e com justa razão – à memória de seu pai, o poeta Raimundo
Marreiro. Trabalho de gigante, numa terra de costas e olhos vendados para lutas
desse porte.
E como se não bastasse
ainda, nos derradeiros anos de vida, alcançou a realização de outro sonho: a
criação de uma entidade que congregasse os artistas de Canindé. De bom alvitre
surgiu a Academia Canindeense de Letras, Artes e Memória, a Aclame, da qual ele
era presidente. Muito antes, entretanto, representou sua cidade no parlamento
municipal, erguendo continuadamente a bandeira em defesa da cultura. Militou em
prol da bandinha de música; bradou em favor da preservação dos costumes
religiosos locais; defendeu a identificação de ruas e logradouros com nomes de
vultos canindeenses; conservou com desvelo a divulgação de músicas de raiz;
salvaguardou um acervo importante de gravações antigas; e sustentou por décadas
a apresentação de seu programa radiofônico, no qual inseria a crônica “A voz
amiga do Canindé”. Sem ele, agora, as tardes de domingo estão vazias.
Na sexta-feira
passada, oito de junho, um aglomerado de amigos, admiradores e familiares
reuniu-se na capela vicentina para prestar despedida a Tonico Marreiro. A
bandinha de música do maestro J. Ratinho fez-lhe homenagem merecida. Seus
companheiros recordaram trechos alegres da convivência. O cortejo fúnebre
desfilou pela rua principal de sua cidade, onde fica a Casa Marreiro, monumento
das tradições locais. E seu corpo foi devolvido à terra em que seu coração
pregou raízes firmes, como uma árvore antiga e resistente, em cuja copa
amadureceram os frutos da experiência e da sabedoria, irrigada pela seiva da
inspiração, da criatividade e da integridade moral. Naquela tarde tranquila e
comovida, pareceu-me ver meu querido amigo no expresso do infinito, sorrindo e
acenando da janela para a terra da sua infância, mocidade e amores, e mergulhando
para sempre no seu pedacinho de céu de sonhos e utopias. Adeus, Tonico! Os que
aqui permanecemos, até quando não se sabe, seguiremos fielmente sintonizados em
você, através das ondas possantes e amigas da recordação e da saudade.
Pedro Paulo
Paulino
10/06/18
Fonte: http://vilacamposonline.blogspot.com/
Fonte: http://vilacamposonline.blogspot.com/
só agora tomei conhecimento do falecimento do grande Tonico Marreiro. Que Deus o tenha nos seus braços
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