O Quixeramobim do cronista João Brígido
João
Brígido dos Santos foi indiscutivelmente um intelectual múltiplo, destacando-se
como: político, advogado, cronista, jornalista e historiador. Segundo o poeta
Jáder de Carvalho, um de seus maiores admiradores, João Brígido foi antes de
tudo um grande contador de histórias.
Tendo nascido a 3 de dezembro de
1829, em São João da Barra, então da província do Espírito Santo, faleceu a 14
de outubro de 1921, em Fortaleza. Chegou
menino ao Ceará, e residiu em Quixeramobim parte significativa de sua infância,
onde aprendeu latim, no velho sistema dos jesuítas.
Foi contemporâneo e
amigo de Antônio Conselheiro, moraram na mesma rua, e segundo relatou em texto
memorialístico, junto de outros amigos, os dois quase morriam afogados, pois certo
dia fugiram de casa para “tomar banho num furo, que a enchente do rio tinha
cavado numa das suas margens”. Então, quando estavam mergulhando, um tal
Cândido Sabóia lançou sobre eles uma tarrafa por diversão e “com o peso das
chumbadas” afundaram. Brígido conseguiu
voltar à tona com Conselheiro agarrado ao pescoço dele e assim salvaram-se.
“Meio anfíbio, nadador
afoito e jogador de cambapé, eu vivia nos rios cheios e nos poços”, era assim
que o jovem João Brígido definia-se nesse tempo.
Anos mais tarde já consolidado no
jornalismo cearense e na condição de arguto observador, destacou João Brígido, na
Crônica de Quixeramobim uma
curiosidade histórica sobre o mais antigo templo religioso da cidade: “A matriz
de Quixeramobim, hermeticamente fechada e com assoalhos laterais, tornou-se, no
correr dos anos, uma igreja mal-assombrada. É que ali se fazia a inumação dos
cadáveres da freguesia, como de costume em todo Ceará”.
Por fim, é importante destacar que o escritor
também se debruçou sobre a trágica e sangrenta luta entre Os Maciéis e os
Araújos, a famosa guerra entre famílias que abalou o sertão do Ceará no começo
do século XIX. E assim sendo, sabe-se que João Brigido foi uma referência certa
para Euclides da Cunha escrever anos depois sobre esse episódio no clássico Os Sertões.
Bruno
Paulino é escritor.
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