Prof. Miguel
Leocádio Araújo (UECE) – avalia o livro Sertão:
poetas e prosadores, de Bruno Paulino
Bruno Paulino foi meu aluno no Curso de Letras da FECLESC, campus da
UECE em Quixadá, não sei direito quando, talvez em 2010 ou 2011. Na época, ele
pretendia estudar algo relacionado ao romance “Dona Guidinha do Poço”, de
Oliveira Paiva, e sua relação com o sertão de Quixeramobim. Depois Bruno
formou-se, publicou dois livros e nos reencontramos em lançamento de livros de
amigos e conhecidos ou casualmente pelos supermercados da vida. Ele comentou,
num desses encontros, que estava finalizando um livro sobre poetas do sertão.
Algum tempo depois, lá estava o livro no meu escaninho da universidade, com uma
dedicatória. Comecei a lê-lo, mas demorei a terminar, por conta de um monte de
coisas que aparecem pra fazer. Mas terminei.
São vários textos de gênero um pouco indefinido – entre o perfil
biográfico, as reminiscências, o comentário e as notas de leitura, passando por
algumas entrevistas. O que os liga é o fato de quase todos tratarem de
escritores de algum modo ligados ao sertão – ou por seu nascimento ou por ali
passarem ou viverem. É interessante como registro e como introdução a alguns
escritores que, de outro modo, não conheceríamos, pois poucos dos nomes
comentados no livro são frequentemente mencionados no jornalismo especializado.
Além disso, textos sobre esses escritores são de publicação bastante difusa,
aparecendo em diferentes veículos, principalmente os virtuais. Dessa forma,
encontrar um número razoável de poetas e prosadores num mesmo livro é prático
para quem pretende conhecer literatura produzida por cearenses.
Bruno Paulino, escritor Quixeramobinense
Outra característica do livro é o fato de que a maioria dos autores
comentados não são os mais conhecidos. Bruno dá preferência a escritores que,
embora estabelecidos como tal, não são aqueles hegemônicos do ponto de vista da
circulação de sua obra nos meios jornalísticos, acadêmicos e literários. Alguns
desses escritores são cordelistas – ou poetas populares, como ficaram
conhecidos. Muitos deles Bruno Paulino conheceu pessoalmente e relata a
interação ocorrida. Algumas vezes, aspectos de uma obra são comentados e
relacionados às vivências do escritor em questão. Numa linguagem simples – e
muitas vezes elogiosa aos autores cujo perfil é elaborado – o livro faz uma
espécie de memória desses poetas e prosadores do sertão cearense.
O que senti falta: escritoras e experiências de escrita mais
contemporâneas no sentido da linguagem e dos suportes. Mas, óbvio, que as
escolhas de Bruno têm muito a ver com suas preferências e suas interações; e
sua escrita é resultado dessas preferências.
PAULINO, Bruno. Sertão: poetas e prosadores.
Fortaleza: Expressão Gráfica, 2016.
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