A arte e o
pensamento
do cordel
A terceira edição
da Feira do Cordel Brasileiro acontece de hoje (16) a domingo (19), na Caixa
Cultural
Por Felipe
Gurgel - Repórter
A partir desta quinta
(16), até domingo (19), a Caixa Cultural Fortaleza (Praia de Iracema) recebe a
terceira edição da Feira do Cordel Brasileiro. Durante os quatro dias de
programação, o evento traz um recorte da tradicional cultura cordelista,
através de shows, recitais, palestras, lançamentos literários, além da
exposição de obras raras e venda de folhetos de cordel, livros, camisetas e
CDs.
Às 14h desta quinta, a
solenidade de abertura reunirá, no Teatro da Caixa Cultural, mestres do cordel
e da cantoria, com a apresentação "A Saga de um vaqueiro", da Escola
José Antão de Alencar Neto (Pio IX/PI). Segundo o cordelista Klévisson Viana,
organizador do evento, a programação deste ano, em relação às edições
anteriores, está mais encorpada.
Klévisson cita a
experiência da Praça do Cordel, dentro da programação da Bienal Internacional
do Livro do Ceará, como um evento correlato da Feira do Cordel Brasileiro.
"A cada edição, a programação fica mais complexa e mais rica. A gente está
primando muito pelo lado científico, com grandes palestras. Procurando cada vez
mais melhorar o nível das palestras, das oficinas. Logo de cara, no dia da
abertura, termos a palestra do Bráulio Tavares/RJ ("Imagens da Ficção
Científica no Cordel", às 15h)", destaca o cordelista.
O organizador reforça
que Bráulio é um dos maiores pensadores da cultura popular no Brasil hoje,
"e ainda é um excelente cordelista", acrescenta. Ainda no primeiro
dia de programação, ele cita shows como o de Beto Brito (PB), Mestre Gereba
Barreto (BA), além dos locais Mestre Geraldo Amâncio Pereira e o jovem cantador
Guilherme Nobre, uma revelação de apenas 17 anos.
Adaptação
Klévisson Viana
observa que, embora envolva uma forma bem tradicional de expressão artística, a
literatura de cordel é viva e dinâmica, no sentido de se atualizar em relação à
cultura contemporânea e aos espaços ocupados por novos e experientes
cordelistas.
"Basta lembrar
que, 15 anos atrás, quando a internet estava engatinhando por aqui, as pessoas
achavam que ela ia massacrar as tradições. Mas deu foi mais voz, amplificou.
Hoje é quase impossível você encontrar um cordelista que não tenha uma página
para divulgar suas obras. E isso se deu também a partir do momento que o cordel
passou a ocupar as bienais (literárias)", situa o cordelista.
Ele credita à
consolidação da Praça do Cordel, na Bienal cearense, a abertura de portas para
que o gênero ganhasse espaço em bienais de outros estados. Klévisson defende
que o evento cearense é um dos mais diversos, no que diz respeito à divulgação
da literatura, em todo o Brasil.
"A nossa Bienal,
em termos de programação, é a mais rica. Em SP, a tônica é o comércio. Aqui
também tem o comércio, mas a programação é muito mais diversa, uma infinidade
de palestras, oficinas, todos os gêneros são contemplados", elogia.
"Nossa Bienal é muito bem pensada, e está um passo à frente, mas isso não
desmerece as outras", pondera, reforçando como a Praça do Cordel foi um
dos gatilhos para que a Feira do Cordel Brasileiro aconteça.
Cenário
A Feira do Cordel Brasileiro
nasce de um projeto formulado pela Associação de Escritores, Trovadores e
Folheteiros do Estado do Ceará (Aestrofe). Presidente da entidade, Klévisson
situa que hoje o Ceará tem o maior número de poetas cordelistas em atividade.
Ele considera Fortaleza, na atualidade, a "meca" da literatura de
cordel.
"Por baixo, a
gente tem uns 15 poetas que acontecem nacionalmente e que publicam em grandes
editoras literárias (como a Leya, Hedra). Gente como o Rouxinol do Rinaré,
Geraldo Amâncio Pereira, Francisco Paiva Neves", cita, entre outros
poetas.
O organizador observa
como a literatura de cordel é um gênero mestiço, de origem ibérica, e que se
ampliou no Nordeste do Brasil, embora se encontre cordelistas em todas as
regiões do País. "É um suporte que pode agregar e falar sobre qualquer
tema. Com a característica de que é rimado e metrificado. Por essa razão, creio
que a poesia que tem mais leitores hoje é a literatura de cordel",
vislumbra.
Simplicidade
Klévisson conta que,
visitando países como o México, percebe a procura dos leitores por folhetos de
cordel, interessados no formato prático dos livros e no aprendizado do
português falado no Brasil.
Ele destaca ainda como
a produção é acessível aos leitores. Tanto no preço (há folhetos que custam R$
1, R$ 2), como na linguagem de fácil compreensão.
"Em toda a
América Latina, você vai encontrar literatura popular. No Chile, em Cuba, em
todo lugar. A lira chilena é muito parecida com o cordel brasileiro, até na
maneira de imprimir, com folhetos similares", compara.
Programação
Quinta (16)
Teatro
14h - Solenidade de
abertura com mestres do cordel e da cantoria. Apresentação "A Saga de um
vaqueiro"/ Escola José Antão de Alencar Neto (Pio IX/PI)
15h - Aula-espetáculo
"Imagens da Ficção Científica no Cordel" com o escritor, compositor e
pesquisador Braulio Tavares (RJ)
Café Luiz Gonzaga
16h40 - Lançamento do
livro "No tempo que os bichos estudavam", de Paulo de Tarso, o poeta
de Tauá (Fortaleza/CE)
Palco Leandro Gomes de
Barros
17h - Recital com Raul
Poeta (Juazeiro do Norte/CE), Rafael Brito (Fortaleza/CE), Pedro Paulo Paulino
(Canindé/CE) e Jota Batista (Canindé/CE)
18h - Show interativo
de voz e violão "Cante lá que eu toco cá" com o Mestre Gereba Barreto
(Salvador/BA)
19h - Cantoria com o
Mestre Geraldo Amâncio Pereira (Fortaleza/CE) e Guilherme Nobre (Fortaleza/CE).
19h50 - Recital com o
mestre Chico Pedrosa (Olinda/PE)
20h20 - Show com o
rabequeiro e cordelista Beto Brito e Banda (João Pessoa /PB)
Mais informações:
III Feira do Cordel
Brasileiro. De quinta (16) a domingo (19), na Caixa Cultural Fortaleza (Av.
Pessoa Anta, 287, Praia de Iracema). Acesso gratuito. Contato: (85) 3453.2770.
Fonte: CADERNO 3 –
Diário do Nordeste.
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